Autista nível 1 de suporte, frequentemente, tem sua condição invalidada ou questionada. E por que isso acontece? Porque a sociedade ainda tem uma visão estereotipada sobre o autismo e de como o autista deve ser. Pensam que somos incapazes de falar, de tomar decisões, de participar da vida social e política, constituir família e até mesmo reivindicar direitos.
Não é raro encontrar um autista que sofreu uma barreira no ambiente escolar ou no ambiente de trabalho com a máxima de que era “leve”, ou, “funcional demais”. A própria categorização faz com que nossa condição seja relativizada: autismo “leve”, mas que de leve, não tem nada. Só que por causa desse termo, somos impedidos de ter acesso às adaptações básicas onde quer que estejamos, é como se nossas especificidades fossem colocadas em segundo plano.
Geralmente, por sermos tidos como pessoas facilmente inseridas na sociedade, vamos deixar de acessar qualquer tipo de suporte pelo mesmo motivo. É como se entendessem que: “é leve, então não precisa”.
É triste pensar nos autistas que podem ser expostos a diversos estímulos sensoriais e que isso pode resultar em crises de ordens diferentes, com a premissa de que é “leve”, “pouca coisa”. Dos autistas com maior nível de comprometimento, eles já esperam esse tipo de situação e, de repente, caímos no limbo: autista nível 1 de suporte são leves demais e não precisam de apoio, autistas níveis 2 e 3 já são autistas demais para lidar. É sempre o não lugar. Se a pessoa não apresenta características tão exacerbadas no autismo, ao longo do tempo, seu comportamento pode ser facilmente atribuído a questões de personalidade ou temperamento.
Mas fica a pergunta, leve para quem?
Por Jéssica Borges, educadora inclusiva e popular, profissional da inclusão e diversidade, ativista pelos direitos humanos, mulher autista e mãe do Ravi que também é autista.