A dor da exclusão vivida por pessoas que sofrem com comportamentos opressores
Estou aqui tentando pensar em como escrever esse artigo e enquanto penso, lembro também de tudo que está acontecendo nesse exato momento em todo mundo. Guerras, conflitos, morte de inocentes, preconceitos, discriminação, ódio…
Desde o início de agosto estou no Rio de Janeiro trabalhando em um projeto lindo para levar acessibilidade e capacitar funcionários da SuperVia (empresa operadora dos trens do RJ) para atendimento de passageiros com necessidades de assistência especial. Isso mesmo! Quem são? Gestantes, idosos, pessoas com mobilidade reduzida, obesos, pessoas com crianças de colo e principalmente pessoas com deficiência.
Por quê? Simplesmente porque não aprendemos sobre isso. Na escola não nos ensinaram, ao contrário, aprendemos que pessoas com deficiência não podiam ser vistas, e, por muito tempo fomos ignorados.
Sou pessoa com deficiência há 12 anos e convivo com várias pessoas assim. Aprendi que a convivência gera respeito, seja com quem for. Mas o que deveria ser regra não acontece sempre.
Descobri nos últimos anos que falar sobre o tema, ensinar tudo que tenho aprendido até aqui é meu propósito de vida! Estou vivendo uma grande experiência com todas essas pessoas. São seis horas de treinamento diário com turmas distintas. Fico sempre cheia de gratidão, afinal os resultados são bem positivos – ouço frases como: “Uau! Nunca tinha ouvido falar sobre o tema de uma forma tão natural, quero aprender mais!” – “É simples assim? Por que será que a gente complica tanto?” – “Nunca ouvi falar sobre isso, que bom aprender tanta coisa para ensinar meus filhos e família!” – “Quem bom aprender para melhorar nosso atendimento!”
Como não me orgulhar disso tudo? O ORGULHO descrito no título desse artigo é sobre isso – me orgulho do meu trabalho e do trabalho das minhas amigas da Talento Incluir e de tantos outros profissionais que realmente acreditam que levando letramento e informação podemos mudar muita coisa nesse mundo.
Também me orgulho muito de pessoas com deficiência que, assim como nós, seguem a vida com leveza e, apesar de limitações físicas ou sensoriais, continuam trabalhando e crendo num mundo possível, onde não haja preconceitos, capacitismo, segregação ou exclusão. É nosso papel ajudar na desconstrução de tudo que foi aprendido de forma errada.
Pensando nisso, não tem como não falar sobre o tema PRECONCEITO. Aliás, tema muito discutido em sala. Tenho pensado muito sobre isso e não tem como fugir de um tema constante – o racismo. Nessa última semana, todos os dias pela manhã ao assistir o jornal, me deparei com notícias de preconceito, discriminação e racismo. Prefeito que ofendeu e foi extremamente racista com funcionária da padaria e foi preso. Professora de escola que na frente dos alunos discutiu com a diretora e a ofendeu sendo racista.
Tristeza profunda! Ontem, em particular, acho que de tanto ouvir esses absurdos, de tanto ver tanta destruição, ao falar sobre preconceito e citar a história da minha amiga e mentora Katya Hemelrijk que presenciou um momento de preconceito vivido por sua filha Yasmin, não contive as lágrimas. Chorei em plena sala. Pedi perdão aos presentes e chorei. Nesse momento uma mulher negra, dona de um sorriso lindo, levantou a mão e disse: – Ontem fui seguida em uma loja. Semana passada também, e na outra também….
Fui em sua direção e a abracei. Queria que meu abraço a curasse de todo preconceito e discriminação que ela viveu e ainda viverá, mas, foi apenas um abraço de alguém que não entende esse mundo, de alguém solidária a sua dor. A exclusão dói! Dói muito! Ela chorou também e me agradeceu.
Li uma frase de Nelson Mandela que me chamou atenção e faz todo sentido: “O racista não nasce racista; ele é ensinado a ser racista. Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.
Acredito nisso! Concordo plenamente com Nelson Mandela e me orgulho sim do trabalho que fazemos, afinal, nosso trabalho tem ensinado as pessoas a serem tolerantes, a evitar o preconceito, reconhecendo que ele existe, pensando antes de agir e evitando julgamento. Aprendem a atender, a respeitar e a amar. Esse é o caminho para um mundo possível.
Por Ciça Cordeiro, consultora em DE&I, Acessibilidade e Comunicação na Talento Incluir