Cresce número de alunos com deficiência no ensino superior
O número de matrículas de pessoas com deficiência no ensino superior cresceu 17% em 2023, segundo o INEP

Anualmente, o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), vinculado ao Ministério da Educação, divulga os dados do Censo do Ensino Superior, baseado nas informações registradas pelas instituições de ensino superior. Tenho acompanhado esses dados há alguns anos, especialmente os relacionados aos alunos com necessidades especiais, que incluem pessoas com deficiência e alunos com superdotação.
Os números mais recentes, referentes ao censo de 2023, mostram que o número de alunos com deficiência matriculados no ensino superior cresceu 17% em relação a 2022. Esse aumento é significativamente maior que o crescimento de 5,6% do total de alunos matriculados no Brasil no mesmo período.
Análise por região e tipo de deficiência

Embora expressivo, a representatividade dos alunos com deficiência ainda é pequena: apenas 0,93% do total de matrículas em 2023, que somaram quase 10 milhões de alunos. Ao todo, foram registrados 92.756 alunos com deficiência, dos quais 46.006 frequentam cursos presenciais.
A distribuição regional é a seguinte:
- Sudeste: 36%
- Nordeste: 21%
- Sul: 20%
- Norte: 12%
- Centro-Oeste: 11%
Os tipos de deficiência mais comuns entre os alunos são:
- Deficiência física: 36%
- Baixa visão: 23%
- Intelectual: 10%
- Transtorno do Espectro Autista (TEA): 10%
- Deficiência auditiva: 9%
- Cegueira: 4%
- Surdez: 4%
- Superdotação: 4%
Surdocegueira: 1%
Crescimento ao longo dos últimos anos

Entre 2019 e 2023, o número de alunos com deficiência cresceu 91%, quase seis vezes mais que o aumento total de matrículas no período, que foi de 16%. No entanto, o desafio maior não é apenas a entrada de alunos com deficiência no ensino superior, mas sim a conclusão do curso.
O censo de 2023 revelou que 12.651 alunos com deficiência concluíram seus cursos, destacando as dificuldades que muitos enfrentam devido à ausência de acessibilidade, o que contribui para a evasão.
Inclusão no ensino superior e mercado de trabalho

Os números mostram duas realidades importantes:
- Mais pessoas com deficiência estão acessando o ensino superior.
- As instituições estão cada vez mais registrando dados sobre esses alunos, permitindo maior visibilidade e acompanhamento.
Contudo, a inclusão no ensino superior ainda não reflete a mesma proporção no mercado de trabalho. Segundo a Secretaria da Inspeção do Trabalho (SIT), há 546,9 mil trabalhadores com deficiência no mercado formal, o que representa um crescimento de 47% desde 2019.
Infelizmente, a Lei de Cotas ainda não é cumprida em sua totalidade, com uma ocupação média de apenas 50% das vagas reservadas. É importante destacar que 93% dos trabalhadores com deficiência estão empregados em empresas com mais de 100 funcionários, que são obrigadas a cumprir a lei. Essa realidade suscita a necessidade de debater a inclusão em micro e pequenas empresas, que representam 93,4% das empresas ativas no Brasil.
Saiba mais sobre os desafios e conquistas da Lei de Cotas no artigo: Conquistas da Lei de Cotas completa 33 anos.
Um olhar estratégico para a inclusão

Os números apresentados reforçam a importância de programas de inclusão e políticas afirmativas. A inclusão de pessoas com deficiência é uma questão tanto social quanto econômica. É preciso superar o viés assistencialista e adotar um olhar estratégico sobre essa realidade, promovendo a visibilidade e a inclusão dessas pessoas em todos os espaços, inclusive no mercado de trabalho.
Acessibilidade e inclusão são fundamentais não só para a educação, mas também em eventos e práticas corporativas. Confira mais no artigo: Acessibilidade em Grandes Eventos.
Sobre a autora:
Sueli Yngaunis é professora universitária e atua na área de inclusão de alunos com deficiência no ensino superior. Graduada em Comunicação Social pela FAAP, é especialista em Propaganda e Marketing pela Cásper Líbero, mestre em Comunicação e Mercado pela mesma instituição e doutora em Ciências pela FFLCH/USP, no Programa de Pós-graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades.