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NR1 e os Riscos Psicossociais: O Impacto na Vida de Profissionais com Deficiência

NR1 e os Riscos Psicossociais: O Impacto na Vida de Profissionais com Deficiência

A relação entre saúde mental e trabalho tem ganhado cada vez mais atenção. Com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR1), que exige que as empresas identifiquem e gerenciem riscos psicossociais a partir de maio de 2025, esse tema se torna uma prioridade para empregadores e líderes organizacionais.

Fatores como estresse, sobrecarga, assédio, isolamento social e dificuldade de equilibrar vida pessoal e profissional impactam diretamente a saúde dos trabalhadores. Para profissionais com deficiência, esses desafios são ainda mais complexos quando somados à falta de acessibilidade, capacitismo e exigências desproporcionais no ambiente de trabalho.

Riscos psicossociais

Foto de mulher com deficiência sentada em sua cadeira de rodas, trabalhando no notebook em um escritório

Os riscos psicossociais são fatores organizacionais que podem gerar impactos negativos na saúde mental e emocional dos trabalhadores. Alguns exemplos incluem:

  • Carga de trabalho excessiva – Quando as exigências são incompatíveis com as condições do trabalhador.
  • Ambiente organizacional hostil – Práticas discriminatórias, assédio moral ou falta de suporte da liderança.
  • Falta de autonomia – Baixa participação em decisões que afetam diretamente o trabalho.
  • Exclusão social – Barreiras físicas e comportamentais que dificultam a integração do trabalhador com deficiência na equipe.
  • Insegurança profissional – Medo constante de perder o emprego ou ser subestimado devido à deficiência.

 

Com a atualização da NR1, as empresas precisarão mapear e mitigar esses riscos para garantir um ambiente de trabalho mais seguro e saudável para todos os seus profissionais.

Para pessoas com deficiência, os riscos psicossociais no ambiente de trabalho são agravados por diversos fatores. A falta de acessibilidade, por exemplo, pode gerar cansaço físico e emocional, prejudicando a produtividade e o bem-estar.

O capacitismo estrutural – quando as competências da pessoa com deficiência são constantemente questionadas – também impacta negativamente a autoestima e o engajamento no trabalho.

Impactos do capacitismo no ambiente corporativo

  • Microagressões diárias que desmotivam e isolam o profissional.
  • Barreiras atitudinais que dificultam o crescimento na carreira.
  • Falta de políticas de inclusão efetivas, resultando em maior rotatividade.
  • Desigualdade de oportunidades de desenvolvimento profissional.

 

Se esses aspectos não forem considerados no mapeamento de riscos psicossociais das empresas, o burnout será uma realidade inevitável para muitos profissionais com deficiência.

O que as lideranças podem fazer?

As empresas precisarão ir além das tradicionais medidas de segurança ocupacional para atender às novas exigências da NR1. E para garantir que essa transformação seja realmente inclusiva para profissionais com deficiência, algumas ações são essenciais e deverão ser feitas para tornar o ambiente de trabalho mais saudável, como:

  • Garantir acessibilidade total – Eliminar barreiras físicas e digitais que aumentam a carga de trabalho. (NBR 9050 e NBR 17225)
  • Treinar lideranças e equipes – Sensibilizar sobre os riscos psicossociais específicos enfrentados por pessoas com deficiência.
  • Criar espaços de escuta ativa – Estabelecer canais seguros para denúncias e feedbacks sobre o ambiente de trabalho.
  • Flexibilizar a jornada de trabalho – Permitir adaptações que respeitem as condições individuais.
  • Investir no suporte psicológico – Oferecer acompanhamento especializado para lidar com os desafios emocionais e sociais no trabalho.

NR1: Obrigação legal e diferencial competitivo

A adequação à NR1 não deve ser vista apenas como um cumprimento de norma, mas como uma oportunidade para fortalecer a cultura organizacional e aumentar a retenção de talentos. Empresas que reconhecem e combatem os riscos psicossociais enfrentados por profissionais com deficiência constroem times mais engajados, produtivos e saudáveis.

A inclusão, quando feita com responsabilidade, reduz o absenteísmo, melhora a imagem corporativa e promove um ambiente de trabalho verdadeiramente equitativo.

O futuro do trabalho é acessível, saudável e psicologicamente seguro para todos. Sua empresa está preparada?

Sobre a autora

Ciça Cordeiro, consultora em Acessibilidade e DEI na Talento Incluir.

Jornalista, especialista em cultura inclusiva, comunicação e eventos acessíveis. MBA em Gestão Pública e Direitos Humanos.

Foi Coordenadora de Comunicação na Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, autora do Guia de Comunicação e Eventos Acessíveis e coautora de outras publicações da Prefeitura de São Paulo voltadas à acessibilidade (2018-2021).