Sustentabilidade e Acessibilidade na Web: o impacto de nossas escolhas
Entramos em 2025 chocados com os incêndios de Los Angeles, na Califórnia. As mudanças que precisamos fazer para reverter esse cenário apocalíptico são imensas e não dependem apenas do governo, mas de todos nós. Precisamos mudar nossas práticas e atitudes, e também nossa consciência. Isso inclui nossa vida física e também a digital.
Já há tempos quero me aprofundar no tema de ESG ou Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), um tema que trata tanto de sustentabilidade como de consciência social nas empresas, o que inclui a acessibilidade – ambos os temas os meus preferidos -, além da gestão que permite tudo isso se tornar realidade.
Ao iniciar o ano corporativo, me deparei com o artigo genial “Sustainable Design Patterns For UX Designers” do Vitaly Friedman. Neste artigo, ele trata de forma ampla sobre práticas de design sustentáveis. Ao ler o texto, se tornou mais claro para mim o quanto a sustentabilidade e a acessibilidade estão interligadas.
Reduzindo o Impacto Ambiental
Infelizmente, a cultura digital que criamos gera muito impacto ambiental. Além da imensa quantidade de CO2 gerado na produção de computadores e telefones smartphones, por exemplo, a fabricação desses dispositivos gera resíduos tóxicos e gastam muita água.
Mas o impacto não para por aí. A quantidade de energia gasta com o uso de tantos aparelhos no mundo é muito nociva para o meio ambiente. É aí que entra o conceito de design sustentável.
Ao criar um website ou conteúdo digital podemos fazer muitas coisas que reduzem esse impacto ambiental. Por exemplo, podemos reduzir o tempo de carregamento de página, colocar cores que exigem menos luminosidade na tela ou reduzir o desperdício limpando arquivos desnecessários e criando processos que reduzem tempo de uso de máquina e de servidor.
Mas o artigo de Friedman fez acender uma luzinha a mais na minha mente quando ele disse que somos mais sustentáveis quando otimizamos o tempo de uso dos nossos produtos.
“Quanto mais rápido pudermos fazer as pessoas realizarem suas tarefas sem erros, menor será o impacto ambiental do nosso produto.”, ele diz.
O que faz todo o sentido. A maior parte do impacto ambiental acontece nos dispositivos das pessoas, decorrente do tempo de uso de computadores e celulares. Por isso, ao exigir menos dos dispositivos dos usuários, ajudar as pessoas a reduzir o tempo de uso de um site ou aplicativo e focar nas atividades que elas precisam executar, estamos também sendo mais sustentáveis.
Acessibilidade Digital torna produtos mais sustentáveis

Se produtos malplanejados nos fazem perder tempo na web, imagine o tempo gasto por uma pessoa com deficiência ou com mais idade tentando realizar uma atividade.
O Stefan tem TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e Dislexia. Ele tem dificuldade em reconhecer sons e palavras escritas, o que impacta sua compreensão na leitura. Stefan faz um uso melhor da web ao ler um livro digital onde ele pode ampliar a fonte e o espaçamento de linhas, além de poder ouvir as palavras enquanto lê, o que ajuda a atenção e a compreensão do texto. Porém, quando os textos online são apenas imagens digitalizadas ou não possuem atalhos para que ele possa pular para partes específicas do conteúdo, ou existem longos textos sem títulos e subtítulos, Stefan tem mais dificuldade para focar no conteúdo. Muito conteúdo em movimento distrai sua atenção e pode desviá-lo do que ele está fazendo aumentando o tempo que ele permanece usando o computador ou o celular na realização de uma mesma tarefa.
Fonte: Iniciativa de Acessiblidade Web do W3C (WAI)
Isso significa que quando temos produtos mais acessíveis, eles são também mais sustentáveis. De fato, a IBM criou um check-list para a sustentabilidade onde diversos itens estão associados com acessibilidade digital:

Ver checklist completo no site da IBM.
Com isso em mente, selecionei uma pequena lista de itens de acessibilidade digital que ajudam a tornar nossos conteúdos e páginas web também mais sustentáveis:
- Avalie e pesquise as necessidades dos usuários;
- Crie uma experiência leve por padrão;
- Evite conteúdos e elementos desnecessários ou em excesso;
- Garanta que a navegação e a orientação sejam bem estruturadas;
- Respeite a atenção do usuário;
- Use padrões de design reconhecidos;
- Crie interfaces, mecanismos de navegação e simbologia consistentes;
- Possibilite e encoraje o uso de modo escuro;
- Escreva com propósito, em um formato acessível e fácil de entender, use Linguagem Simples;
- Use imagens mais leves, com descrição alternativa em texto;
- Reduza imagens que não estão visíveis para o usuário, como em carrosséis;
- Não inicie vídeos automaticamente;
- Reduza tempo de vídeo e inclua legendas;
- Use combinações e contrastes de cores acessíveis;
- Forneça os documentos para download de forma otimizada, compactados e em uma variedade de formatos de arquivo acessíveis.
Esta lista não se esgota aqui e temos muito ainda o que adotar para tornar a experiência de nossos clientes, usuários e visitantes mais eficaz e sem desperdício de tempo. Boas práticas de acessibilidade ajudam as pessoas e ajudam nosso planeta. Mas as empresas também são beneficiadas. Imagino um futuro onde todos saem ganhando. Longe de ser utópico, é o futuro que precisamos prever.
Para saber mais, visite: https://sustainablewebdesign.org/
Por Cláudia Martin Nascimento é mestre em Estética e História da Arte pela USP e Bacharel em Desenho Industrial pela FAAP, tem 22 anos de experiência em webdesign e trabalha com acessibilidade há 10 anos. É vencedora do Prêmio Nacional de Acessibilidade na Web Todos@Web e integra o Grupo de Especialistas em Acessibilidade Web do W3C Brasil. Membro do Comitê de Estudo de Acessibilidade para a inclusão digital da ABNT para a criação de Normalização de Acessibilidade em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). É co-fundadora do Acesso para Todos e Plataforma Móduli. Sua biografia foi publicada no Who’s Who in Research da Intellect Books – UK.